E porque hoje é noite de Halloween...
Um poema de José Duro, poeta decadentista português do século XIX.
"Coveiro
Sonho que sou coveiro, e sinto os braços frágeis
Quando pego na enxada a rasgar um coval,
Ou quando tomo um crânio e aliso o frontal
Desse cárcere estreito em que houve sonhos ágeis...
Entro no cemitério a horas doloridas;
E, à indecisa luz das claridades frouxas,
Arrasto o meu olhar pelas gangrenas roxas
Dum corpo de Mulher a desfazer-se em vidas...
Um corpo escultural, imaculado, inerme,
Entregue à sedução fantástica do Verme,
Que o desfigura a rir, numa vertigem louca...
Um corpo que exumei, alucinadamente,
Em ânsias de remorso, em raivas de demente,
Para poder beijar-lhe a apodrecida boca!"
José Duro, Fel
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Mas que poema forte e lindo!!
ResponderEliminarBeijinho*